segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Parto

Um arrepio tomou a espinha
Levou toda a saliva
Congelou ou sentidos

Senti-me sozinho
Acuado
Tropeçando em meus medos
Em triunfante queda livre

O óbvio já era inaceitável
O lógico, inconcebível

Vazio

Depois, o alívio
Agora livre como um vírus
Espontâneo como uma gargalhada

Rompi com a razão
Valores, instintos, hipocrisias
Tudo deixado de lado

O mundo sou eu
Livrei-me de mim

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Pedigree

Quero largar o batente
Ter cerveja corrente
Para degustar

Deixar compromissos de lado
Pendurar fiado
E nunca pagar

Perfume, um trato no pêlo
E uma sogra que nunca reclame
Levar a vida como poodle de madame

Bom mesmo é tirar um cochilo
Após bater um quilo
De bife, picanha ou filé

E pra completar a soneca
Uma loira sueca
Fazendo massagem no pé

Ter colo, sossego, chamego
De uma nega que muito me ame
Levar a vida como poodle de madame

E quando fugir da coleira
Ter uma amante que não me difame
Levar a vida como poodle de madame

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

O()culto

Amor repele
Assombração
Senti nelas ardor
Sou fria

É comum ser tão vil?

Amor e pele
As sombras são sentinelas
Ar, dor
Sofria

É como um sertão, viu?

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Onimpotência

Vim subverter a desordem
Ora oro, ora urro
Olhos arregalados na escuridão

Contra tudo e a favor de todos
Ora murro, ora uivo
Rouco num mundo sem alarde

De pouco todo louco tem o mundo
Trago a utopia como identidade
Ilusão é ver as coisas como são

Quando, da soberba, cai o pano
Nada, nada, nada é mais insano
Que a lucidez

Mais um dia

Rio estático no céu azul
Água que encobre o sol
Mar dobrando o horizonte
Apenas o ar quebra o silêncio

Vai a folha
Desce a tarde
Semeia o tempo
Deixa que o instante seja o bastante

Quando o vento afunila
Só resta o nó
E o peso

Basta olhar uma estrela
Ampla, imóvel, tão distante
Tudo parece pequenino
Tudo parece relevante